As peculiaridades da Dermatologia
A pele é o maior e um dos mais complexos órgãos do corpo humano. Envolve e protege o corpo como um papel de embrulho, traçando a fronteira entre dois mundos indissociáveis e interdependentes, o interior e o exterior, separando o “eu” e os “outros”.
Na psicoterapia, a pele é muitas vezes perspetivada como um elemento fundamental da saúde mental, justamente porque proporciona a compreensão dos limites que separam “o dentro” e “o fora”. Neste sentido, e extrapolando para o âmbito da interação social, é muitas vezes sublinhado que a perceção dos limites que a pele impõe está associada à interiorização do respeito pelo próximo, à observância das regras de convivência social e à própria integração na vida em sociedade.
A sua íntima ligação com o cérebro e com as emoções é estabelecida logo no processo de formação do feto, uma vez que a estruturação da pele e do sistema nervoso ocorrem simultaneamente, desenvolvendo-se a partir daí uma estreita relação mantida e aprofundada ao longo de toda a vida.
Embora seja o órgão mais visível e superficial do corpo, nenhum órgão como a pele é tão afetado pelas ressonâncias da saúde física e dos estados de alma, assumindo-se como o espelho primeiro das emoções e das vivências internas de cada um.
Acentuando justamente este aspeto, PAUL VALÉRY escreveu, um dia, que “ce qu’il y a de plus profond dans l’ homme, c’est la peau”.
Como tal, observar uma pele e, simultaneamente, ouvir o paciente – “ o olho que escuta” – permite-nos aceder ao ser humano na sua mais profunda interioridade, cuidando da sua saúde e conhecendo, por essa via, a sua relação com a vida e com os outros.
Assim sendo, tratar a pele é, afinal, também tratar a integridade duma pessoa.